sábado, 10 de março de 2012

“Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. (João 8:36)



Parece que só passamos a apreciar a liberdade quando por algum motivo, de alguma forma, nos sentimos privados dela. Aliás, apenas a consciência que se percebeu cativa, impedida, encarcerada, por algo ou alguém, é que almeja intensamente por enfim, sentir-se livre.

Creio que a ideia do cárcere amedronta e apavora todos os seres, humanos ou não? Desde o pássaro que um dia foi livre, mas caiu na armadilha, e chora com seu canto, dentro da gaiola. Já perceberam como é tristonho o olhar dos animais que habitam em jardins zoológicos? E esse mesmo canto incompreensível de lamento, esse olhar tristonho, que encontramos todos os dias, em todos os lugares, muitas vezes diante do nosso espelho.

Não é preciso estar encarcerado numa prisão para sentir-se preso. Possuímos cadeias invisíveis aos olhos, porém igualmente intransponíveis. Afinal, que liberdade possui alguém que depende de algum tipo de entrave para conseguir sorrir?

E o que dizer dos alcoólicos, dos viciados em pornografia, dos que roubam, e dos que matam, dos que violam ou dos que batem em mulheres? Ou mesmo daqueles que vivem esmagados pelo peso da culpa pela prática homossexual? Seriam realmente livres, aqueles que tendo que subornar outros, obtêm vantagens? Seriam realmente livres quem, vaidosamente, existe para corresponder aos padrões estéticos que os mídia convencionou chamar de “belo” ou “normal”?

 Seriam livres aqueles que mesmo em meio a uma multidão, sentem-se solitariamente reclusos em si mesmo, não tendo com quem compartilhar as suas dores, alegrias, derrotas ou desafios?

Será a religião capaz de produzir indivíduos livres? Quando olho em minha volta, ou quando observo a minha própria vida, forçosamente respondo que não. A religião, decididamente, não faz indivíduos livres. Pode, no máximo, nos tornar pessoas “aceitáveis” dentro da ótica de gueto cultural e comportamental bem característicos dos clubinhos religiosos, e mais especificamente refiro-me aos católicos apostolicísticos romanos, (aos qual pertenço, e conheço bem!).

 Aderimos a uma visão corporativa e marketisada passamos a utilizar uma estrutura do tipo “igreja-empresa”, para não só conquistar o “cliente”, mas também torná-lo fiel.

Em muitos templos e denominações, a bênção já não é obtida como um favor gracioso de Deus, mas sim como o resultado produzido pela obediência irrestrita às estratégias, dogmas, e práticas ensinadas pelos seus líderes. A religião vicia, e conduz a uma intermediação por ela oferecida, que lhe garante um privilegiada e confortável situação de proximidade ao Deus por ela oferecido.

Mas, e quanto a Jesus? Esse sim é ao mesmo tempo livre e libertador. Podemos observar na leitura dos Evangelhos seu ânimo absolutamente livre, fazendo escolhas e quebrando paradigmas a todo instante, rompendo com tradições humanas inúteis ou mal-compreendidas, tratando com dignidade, amor e especial zelo, os indivíduos marginalizados do seu tempo.

Escolheu pescadores, mulheres, cobradores de impostos, para serem seus discípulos, tocou, ergueu, curou, alimentou, libertou consciências, conforme profetizado por Isaias e até reafirmado por Ele mesmo em Lc 4.19-30. A ninguém ele, de alguma forma aprisionou... Ensinou de forma prática o significado do verbo amar, e mais, disse que os seus seguidores seriam conhecidos por essa mesma característica: o Amor.

Jesus não trouxe uma nova religião, mas sim uma nova ética para a humanidade, propôs uma mudança a partir de cada indivíduo, mudança esta, e valores estes, que ele chamou de Reino de Deus !

Mas qual é a liberdade que Jesus prometeu? Liberdade, em Jesus, é poder realizar de facto escolhas, livre de vícios, imposições, inclinações patológicas, é não ter que ser o que os outros nos impõem que sejamos, mas sim que nós podemos tornar o melhor de nós mesmos.
Que potencialize nossas virtudes, que sejamos capazes de nos surpreender com o poder da bondade e da misericórdia aplicados ao nosso próximo.

Em Cristo, a liberdade é um convite para que nós, em parceria com Deus, possamos reescrever a nossa história, melhorando a nossa vida e também a daqueles que estão ao nosso redor.

E no final dos nossos dias, ao olharmos no espelho da nossa consciência, veremos o quão parecidos com Ele nos tornamos, pois, será que à semelhança de Jesus, teremos aprendido o real sentido de ser livres?

M | Ribeiro Henriques

“Há ideias e factos, que são portadores de futuro”
|Coimbra, 10/03/2012|