segunda-feira, 7 de julho de 2014

Um lugar (cada vez mais) vazio.

A cada vez que volto a Porto de Mós, fico sempre com esta sensação de extrema contemplação. Sinto-me sempre mais rico, e unificado a cada visita. Gosto de sentir que sou desejado ali, que sou por isso, tão comentado, o que, muito particularmente Gosto! Gosto tanto, que não me excluo de o provocar nos mirones que me circundam a cada visita. 

Por isso às vezes penso se esta é a medida adequada, para lidar com esta situação, chego sempre à mesma conclusão! Faça o que fizer, não consigo deixar de ser provocatório, talvez por viver com frontalidade a minha vida, e ser essa a minha natureza. Enfrentar a boçalidade com educação, e com pragmatismo. Mas sei que gosto desta situação! 

Sei que me preenche, perceber as entre línguas, os olhares indiscretos e as "vistas grossas", dos que, noutros tempos, quase noutra vida, se cruzaram comigo por lá.
Gosto acima de tudo de ver, e também de rever, aqueles imutáveis portomosensses, que ali se petrificarão, sem deixar viva a sua marca.

Sinto porto de mós como um cristal, com os mesmos dogmas do passado, que se sustentam nas elites que noutros tempos se confundiam com a lei, e que hoje são parte dessa  historia. Estória essa que não se trás em livro mas de boca em boca... Nas coisas que se dizem e desdizem, e que o tempo sempre corrige, e adultera na distância do lugar onde as deixamos, para lá de quase tudo, e onde tudo foi um facto e é esse o facto que deu origem à estória que hoje deambula por lá.   

Isto passa-se comigo em porto de mós, mas poderia passar-se em qualquer outro lugar  do mundo. 
A fragmentação da personalidade do Homem, por entre a sociedade onde este se insere, é comum, e é também muito natural à condição humana. 

Muito mais naqueles, cuja inercia de fazer mudar a sua realidade, se fluem na realidade dos lugares comuns, naquilo em que não doí pensar, e é por isso mais fácil de preencher. Preencher um lugar, que a sua existência deixou vazio.

M | Ribeiro Henriques

“Há ideias e factos, que são portadores de futuro”
|Coimbra 07/07/2014|