A cada vez que volto a Porto de
Mós, fico sempre com esta sensação de extrema contemplação. Sinto-me sempre
mais rico, e unificado a cada visita. Gosto de sentir que sou desejado ali, que
sou por isso, tão comentado, o que, muito particularmente Gosto! Gosto tanto,
que não me excluo de o provocar nos mirones que me circundam a cada
visita.
Por isso às vezes penso se esta é
a medida adequada, para lidar com esta situação, chego sempre à mesma
conclusão! Faça o que fizer, não consigo deixar de ser provocatório, talvez por
viver com frontalidade a minha vida, e ser essa a minha natureza. Enfrentar a
boçalidade com educação, e com pragmatismo. Mas sei que gosto desta
situação!
Sei que me preenche, perceber as
entre línguas, os olhares indiscretos e as "vistas grossas", dos que,
noutros tempos, quase noutra vida, se cruzaram comigo por lá.
Gosto acima de tudo de ver, e
também de rever, aqueles imutáveis portomosensses, que ali se petrificarão, sem
deixar viva a sua marca.
Sinto porto de mós como um
cristal, com os mesmos dogmas do passado, que se sustentam nas elites que
noutros tempos se confundiam com a lei, e que hoje são parte dessa
historia. Estória essa que não se trás em livro mas de boca em boca...
Nas coisas que se dizem e desdizem, e que o tempo sempre corrige, e adultera na
distância do lugar onde as deixamos, para lá de quase tudo, e onde tudo foi um
facto e é esse o facto que deu origem à estória que hoje deambula por lá.
Isto passa-se comigo em porto de
mós, mas poderia passar-se em qualquer outro lugar do mundo.
A fragmentação da personalidade
do Homem, por entre a sociedade onde este se insere, é comum, e é também muito
natural à condição humana.
Muito mais naqueles, cuja inercia
de fazer mudar a sua realidade, se fluem na realidade dos lugares comuns,
naquilo em que não doí pensar, e é por isso mais fácil de preencher. Preencher
um lugar, que a sua existência deixou vazio.
M | Ribeiro Henriques
“Há ideias e factos, que são portadores de futuro”
|Coimbra 07/07/2014|