Não sei se alguma
vez na vida tiveram o prazer de correr desesperadamente por um campo de pés
trigo. Talvez não! Eu já não me lembrava disto: Quando era pequeno, talvez oito
ou nove anos, reunia as minhas irmãs e todos íamos correr para um campo de
espigas de trigo que existia perto da nossa casa.
Não nos conseguíamos
ver. Estávamos tapados pelo tamanho das espigas que ficava cheia de 'estradas'
à nossa passagem. Ali, no meio de um campo todo nosso, fazíamos um pic nic. Há
anos que não faço um pic nic. Ali, onde o campo era só nosso, conseguíamos
sonhar sem medo, longe, muito longe dos dias de hoje e igualmente longe, todos
nós de imaginarmos como seria a estrada da nossa vida.
Se fechar os olhos,
oiço os gritos e gargalhadas de todos nós, sinto o vento bater-me na cara e o
cheiro a verde de um campo todo nosso, que desfrutávamos desesperadamente com
medo, por estarmos a estragar os pés de trigo, e estupidamente alegres por
sermos crianças, e acharmos, de facto, que aquele campo era só nosso. Não sei
se alguma vez tiveram a oportunidade de correr assim, ficarem tapados pela
seara e, quando olharam para cima, viram o céu azul. Só isso... e lá muito ao
fundo, vozes.
Apenas vagas vozes
que nos traziam à realidade. Um dia, ganho coragem paro o carro numa estrada destas,
e meto-me a correr desenfreadamente por um campo assim, e talvez o resto volte!
M | Ribeiro Henriques
“Há ideias e factos, que são portadores de futuro”
|Coimbra, 17/12/2011|